Aécio é “cortado” de foto com Leite e Paulinho da Força
- Gi Palermi
- 19 de abr. de 2022
- 6 min de leitura
Fato revela inexpressividade e desimportância do político mineiro que quase chegou à Presidência da República.

O tucano Aécio Neves governou Minas Gerais por dois mandatos. Foi senador por Minas e quase chegou à Presidência da República em 2014, alcançando 51.041.155 votos (48,36% dos votos válidos). Mas, a partir de 2015, o envolvimento em uma série de escândalos de corrupção, o lançou a uma derrocada na carreira política. A inexpressividade e desimportância chegaram ao ápice nesta semana quando ele, que já foi o agente político de maior influência dentre os caciques do PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira, foi cortado de uma foto publicada no perfil de seu pupilo Eduardo Leite em uma postagem no Twitter.

O ex-governador do Rio Grande do Sul até tentou remendar o mau feito. Na versão dele, o próprio Aécio teria enviado a imagem cortada para ser publicada nas redes sociais. Leite destacou ainda que Aécio “é um grande aliado na construção de um projeto para o Brasil”. Mas, fato é que Eduardo Leite reuniu-se com o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, e, em torno da mesma mesa, estava sentado também o deputado federal Aécio Neves. O encontro aconteceu nesta segunda-feira (18 de abril). Porém, na publicação sobre a reunião feita por Leite em seu perfil no Twitter, só ele e Paulinho da Força aparecem. E isso, não há remendo que repare. Cá com meus botões, me pergunto: se na avaliação de Leite a ruína de Aécio Neves o deixa abaixo até de Paulinho da Força, o que Aécio Neves ainda espera de seu pupilo? Essa resposta, com certeza o tempo vai se encarregar de trazer.
Secretário do avô
Aécio vem de uma família de políticos de carreira. Seu pai, Aécio Ferreira da Cunha, foi deputado estadual e federal por pouco mais de três décadas, presidente do conselho de administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU); ele foi filiado a partidos que deram sustentação e um entusiasta do regime militar. Já o avô era o também político Tancredo Neves.

Em 1981, na noite de Natal, Tancredo o teria chamado e perguntado: "Você não quer largar a vida de surfista e conhecer direito a sua terra?". Sua vida política começou logo depois, quando ele tinha vinte anos. Nessa época o avô ligou para ele e disse: "É agora" e o convidou para participar de sua campanha eleitoral para o governo de Minas Gerais em 1982. Aécio então foi morar com o avô e o pai em um apartamento de BH. Ele participou de reuniões e comícios em mais de trezentos municípios mineiros. Tancredo foi eleito governador, e, em janeiro de 1983, Aécio passou a ocupar o cargo de secretário particular do avô no Palácio das Mangabeiras. Entre 1983 a 1984, presidiu a ala jovem mineira do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Nos anos seguintes, participou do movimento Diretas Já e da campanha de Tancredo à presidência da República. Antes disso, não havia participado de movimentos estudantis ou de outros movimentos contra a ditadura enquanto estudava no Rio. Aécio acompanhou seu avô em visitas a outros países, estratégia política utilizada para reforçar a transição da democracia no Brasil; eles estiveram com Ronald Reagan, François Mitterrand, Rei Juan Carlos, Papa João Paulo II, Bettino Craxi, Raúl Alfonsín, entre outros.
Quando Tancredo foi eleito pelo Colégio Eleitoral, foi nomeado pelo avô como secretário de Assuntos Especiais da Presidência da República. No entanto, em março de 1985, Tancredo adoeceu poucos dias antes da posse e José Sarney, o vice-presidente eleito, foi empossado temporariamente em seu lugar. Com a morte de Tancredo um mês depois, Aécio e todos os ministros e assessores nomeados por ele renunciaram para que o novo presidente pudesse escolher livremente a composição de seu gabinete.

Em 14 de maio de 1985, foi indicado diretor de loterias da Caixa Econômica Federal; o ato de nomeação foi assinado pelo presidente Sarney e pelo ministro da Fazenda Francisco Dornelles. No mesmo ano, a convite do Ministério da Educação e Cultura, chefiou a delegação brasileira no Congresso Internacional da Juventude, um evento realizado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), onde também foi nomeado o presidente da Comissão do Ano Internacional da Juventude.
Deputado federal
Em 1986, deixou a diretoria de loterias da Caixa Econômica Federal para ser candidato à Assembleia Nacional Constituinte na eleição de novembro daquele ano. A morte recente de Tancredo e a posterior comoção, especialmente entre os mineiros, ajudou Aécio na disputa eleitoral. Candidato pelo PMDB, recebeu 236 mil votos e foi o deputado federal de Minas mais votado daquela eleição. Aécio atribuiu sua vitória a uma "homenagem dos mineiros a Tancredo." Com 26 anos, era um dos deputados mais jovens.
Em 1988 Aécio Neves participou da reformulação da Constituição Brasileira, tendo apresentado 46 emendas, entre elas, o direito ao voto para os jovens entre 16 e 18 anos de idade. No ano seguinte, filiou-se ao PSDB. Em 1990, Aécio foi eleito para o segundo mandato de Deputado Federal (1991-1995), pelo PSDB. Tomou posse em 1 de fevereiro de 1991. Em 1994 foi reeleito para seu terceiro mandato (1995-1999), tomando posse em 1 de fevereiro de 1995. Em 1998, Aécio foi reeleito pela quarta vez para o cargo de Deputado Federal para a legislatura (1999-2002). Entre 1997 e 2000 atuou como líder do Partido na Câmara. Em 2001, Aécio Neves foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Criou o código de Ética e Decoro Parlamentar e propôs o fim da imunidade parlamentar para crimes comuns.
Governo de Minas Gerais
Em 2002, Aécio Neves renunciou ao mandato de Deputado Federal para se candidatar ao cargo de governador de Minas Gerais. Foi eleito com 60% dos votos válidos. Ao assumir o cargo, anunciou o déficit zero nas contas públicas e adotou o “Choque de Gestão”, extinguiu cargos, enxugou o tamanho do Estado e cortou o próprio salário.
Em 2006, Aécio Neves foi reeleito para o Governo com 77% dos votos válidos. Fez um governo com 90% de aprovação. Em 2010, inaugurou a Cidade Administrativa Tancredo Neves, a nova sede do Governo de Minas, que recebeu diversas críticas por endividar o Estado.
Senador da República
Em 2010, Aécio renunciou ao cargo de governador de Minas para poder concorrer ao Senado Federal. Foi o mais votado, além de eleger seu sucessor para o governo de Minas Gerais, Antônio Anastasia. Em 2013, foi eleito presidente nacional do PSDB, com mais de 97% dos votos do partido.
Em 2014, Aécio Neves foi candidato à Presidência da República, sendo eleito para o segundo turno, obtendo 48,36% dos votos, uma das eleições mais disputadas da história do país.
Aécio fez oposição ao governo de Dilma Rousseff e no dia em que o partido comemorou dez anos no Governo Federal, Aécio fez um discurso no Senado enumerando os 13 fracassos do partido durante os dez anos de gestão.
Operação Lava Jato
Em 2015, na delação premiada de Carlos Alexandre, um dos funcionários do doleiro Alberto Youssef, Aécio foi denunciado por receber trezentos mil reis com o intermédio do diretor da UTC, Antônio Carlos Miranda. Apesar da assessoria do senador negar a acusação, o Supremo Tribunal homologou o depoimento.
Em 2016, na delação do senador Delcídio Amaral, Aécio foi acusado de ter recebido vantagens ilegais da estatal de energia Furnas, onde operava um esquema de corrupção que além de beneficiar o senador, abastecia o Partido dos Trabalhadores.
Aécio também foi acusado, por um executivo da construtora Odebrecht, de montar um esquema de propina, enquanto era governador de Minas Gerais. Em abril de 2017, o relator da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin, autorizou a investigação das denúncias contra o senador pela Procuradoria Geral da República.
Operação Patmos
Em maio de 2017, veio a público uma gravação de Aécio Neves, na qual ele pedia dinheiro aos empresários Joesley e Wesley Batista, quantia que seria usada para pagar sua defesa na Lava Jato.
O recebimento do dinheiro foi filmado e rastreado pela Polícia Federal, foi depositado na conta de uma empresa do senador Zezé Perrella. A delação premiada dos empresários foi homologada no dia 18 de maio pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin e Aécio foi afastado do Senado e impedido de exercer as atividades parlamentares.
A irmã de Aécio também foi presa, acusada de ter pedido dinheiro aos empresários. Foi solicitado por Rodrigo Janot, então Procurador Geral da República, a prisão de Aécio, mas o relator da Lava Jato o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin negou o pedido, porém, depois das investigações da Operação Patmos, Aécio se tornou réu pelos crimes de corrupção passiva e obstrução da justiça.
De volta à Câmara
Nas eleições de 2018, Aécio precisava manter-se sob as prerrogativas do foro privilegiado, mas tinha consciência que o envolvimento nos escândalos de corrupção o enfraqueceram politicamente. Na falta de opções, mirou a Câmara dos Deputados e foi eleito, tomou posse em 1 de fevereiro de 2019 e deu início ao seu quinto mandato como deputado federal (2019-2023).
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