Dominar a Educação é um dos pilares de poder da esquerda
- Gi Palermi
- 5 de mai. de 2022
- 19 min de leitura
Atualizado: 6 de mai. de 2022
Professor conservador relata desafios de estar num meio dominado pela esquerda.

Poucos setores sociais são tão visados pelo Movimento Revolucionário liderado pela esquerda identitária no Brasil como a Educação. E isso não ocorre por acaso, ao contrário. Há pelo menos três décadas a esquerda brasileira aplica na prática o pensamento do co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci, de que a Revolução deveria ocorrer primeiro na mudança cultural e no senso comum das pessoas, no primeiro momento, aceitando o Socialismo e, no segundo, os socialistas ocupando os espaços na sociedade, para que quando a hegemonia fosse atingida ocorresse a Revolução, segundo Gramsci sem grandes resistências. Um método com um potencial de ser ainda mais eficiente quando aplicado numa classe como a Educação onde há o domínio das referências de formação de pensamento desde a Educação Básica e avançam ainda mais na Educação Superior. Mas, assim como em qualquer outro setor social, na Educação também há aqueles que não sucumbiram e ousam remar contra a maré que quase os sufoca.
O professor Cláudio Borges Severino Vieira é um deles. O mais velho entre os três filhos de um mestre de obras e uma dona de casa de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Cláudio foi o primeiro entre os parentes mais próximos a concluir o Ensino Superior. Acostumado a enfrentar o trabalho para ajudar a garantir o sustento da família desde os sete anos de idade, foi também trabalhando que conseguiu pagar a faculdade. E desde 2003 enfrenta os desafios de ser um conservador atuando como professor na rede particular e concursado nas redes públicas estadual e municipal onde ministra suas aulas. Nesta entrevista, Cláudio também desconstrói a ideia de que todos os professores são militantes esquerdistas e doutrinadores. “É um senso comum que ao mesmo tempo que nos afasta da verdade dos fatos também nos afasta de um julgamento justo da situação. A maioria dos professores não são nem de esquerda e nem de direita. São pessoas que precisam trabalhar e querem fazer um bom trabalho apesar das muitas dificuldades que envolvem nossa profissão.”
Confira na íntegra esse bate-papo esclarecedor.
Você sempre quis ser professor ou caiu em sala de aula devido a circunstâncias pessoais ou profissionais?
Eu sempre gostei muito da área de humanas, sobretudo História. Durante o Ensino Médio eu estava decidindo entre cursar economia ou direito. Tinha uma professora de Geografia, a qual eu adorava apresentar trabalhos, que me contou sobre a FEU (Faculdade de Educação de Uberaba) que hoje se tornou o Cesube (Centro de Ensino Superior de Uberaba). Ela conversou muito comigo sobre o curso de Geografia, sobre as possibilidades de carreira profissional e sobre o quanto a licenciatura era acessível. Aí pensei: gosto de Geografia, adoro falar em público (sobre economia, política, geopolítica), o curso eu tenho como pagar, era fácil conseguir trabalho (porque faltava professor) e eu precisava trabalhar logo. Então concluí que era uma boa opção para mim. E estou feliz com essa decisão. Foi um misto de eu gostar da área, de o curso ser acessível para minha situação socioeconômica e por ser uma área que eu via possibilidade de fazer uma carreira profissional.
Você sempre foi conservador ou se tornou conservador em algum momento?
Embora em minha origem eu não soubesse o que era ser conservador eu tive uma criação conservadora. Mas quando entrei no Ensino Fundamental II, antiga quinta série, eu estudei em uma escola estadual que era fortemente influenciada pelo PT, sendo que muitos professores da época foram e alguns ainda são dirigentes do Sindicato. Muitos professores da escola usavam a pedagogia freiriana de inserir a luta de classes dentro da sala de aula. Mesmo que eles ensinassem os conteúdos escolares, sempre achavam uma forma de relacioná-los com a luta de classes. Na sexta série eu mudei de escola e só voltei a essa escola no Ensino Médio, onde fiz segundo e terceiro ano. Depois do quinto ano lá eu nunca mais fui o mesmo. Sempre me acompanhou a ideia que eu tinha que lutar contra a injustiça social. Talvez devido a viver as consequências da desigualdade social em minha família essa ideologia da luta de classes me influenciou fortemente. No Ensino Médio, quando voltei a essa escola, novamente entrei em contato com a ideologia de esquerda e sobretudo a luta de classes que eram sempre inseridas no contexto das aulas. Isso fortaleceu em mim aquela necessidade de lutar por justiça social. Isso era tão forte que na Faculdade me interessei muito por Marx, Trotski, Lênin, Mao Tsé-Tung, admirava a Revolução Cubana e sobretudo Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. O marxismo clássico da Revolução armada me parecia ser a solução contra as injustiças do Capitalismo.
Só que eu nunca consegui aceitar o discurso de doutrinação. Eu tinha necessidade de estudar e entender as teorias esquerdistas e sobretudo os lugares que haviam passado pela Revolução. E, esses estudos foram me mostrando ao longo de anos que teoria e prática revolucionária, o que Marx chamava de práxis, não eram tão coerentes como Marx afirmava. E essas incoerências eram graves. A Revolução lutava por uma democracia dos trabalhadores, mas na prática se tornava uma ditadura da burocracia, bem pior do que a temporária ditadura do proletariado prevista por Marx. Os trabalhadores lutavam para fazer a Revolução arriscando suas vidas para se livrarem da exploração capitalista para se tornarem explorados e usados por um governo burocrático, bem no modelo descrito por George Orwell no livro "A Revolução dos Bichos". Em outras palavras a Revolução tornava os trabalhadores mais pobres, sem possibilidades de ascensão social e mais oprimidos do que eram no Capitalismo. Percebi, há algo errado.
Outro conflito com a pregação esquerdista começou a surgir quando eu estava na faculdade. Entrei na faculdade em 1999. Nessa época estava ganhando grande força o que hoje nós conhecemos como Nova Esquerda (que no Brasil é uma cópia da New Left dos Estados Unidos). O marxismo clássico da Revolução armada e da ditadura do proletariado começava a perder terreno na esquerda brasileira para a Guerra Cultural baseada nas teorias de Gramsci e da Escola de Frankfurt. A Revolução armada ia perdendo cada vez mais espaço para a Revolução vinda da mudança do senso comum e com ele a aceitação da Revolução, mesmo que de forma inconsciente. As pautas identitárias começaram a tomar o lugar da luta de classes do trabalhador contra o capitalista burguês.
Nessa época eu vivi esses conflitos sem ter uma clareza teórica do que estava acontecendo, mas sentia que a esquerda estava diferente e que essa mudança me parecia incoerente com o modelo revolucionário marxista e que essas pautas não me agradavam e pareciam muito radicais porque criavam conflito aberto entre os diferentes setores da sociedade. Nessa época comecei a ter mais contato com lideranças e militantes de esquerda da cidade. Os achava muito autoritários e radicais. Comecei a ter conflitos com essa esquerda e a me afastar da militância que comecei a fazer no PSTU. Ainda acreditava na Revolução, mas não achava que a esquerda brasileira era coerente com o marxismo clássico e não estava apta a fazer a Revolução.
Me formei e comecei a trabalhar. Logo percebi que a influência da esquerda era muito forte tanto na rede pública quanto particular de Educação. Mesmo que a maioria dos professores não fossem militantes, eram muito influenciados pelas ideias da esquerda. Os mesmos conflitos que tive com a esquerda na faculdade passei a ter dentro das escolas. A partir desses conflitos investi em estudar um pouco mais o que era a esquerda, suas diversas tendências teóricas e o que elas propunham como modelo de sociedade. Só encontrava literatura de esquerda. Não havia nada que analisasse a esquerda por alguém que fosse de fora do movimento. As críticas à esquerda vinham de dentro da esquerda devido às suas várias tendências. Só comecei a ter uma clareza melhor de tudo isso quando conheci parte das obras do professor Olavo de Carvalho e da deputada estadual em Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo (PL).
Fui me interessando e procurando entender melhor o assunto. A partir dali percebi que eu era conservador em termos morais, religiosos e familiares e que por isso não conseguia aceitar a militância de esquerda. Também percebi que a resposta para a luta contra as desigualdades sociais não está na Revolução Socialista, seja ela armada ou cultural. Quanto mais estudo mais vejo o quanto a esquerda só traz ditadura, pobreza e opressão e o quanto o Capitalismo, apesar de não ser perfeito, é o único sistema que realmente tirou mais gente da pobreza e gerou mais progresso para a humanidade.
Foi uma libertação daquela inserção que tive na luta de classes lá no quinto ano e que se intensificou no Ensino Médio. Percebi o quanto os valores morais, familiares e religiosos são preciosos para uma sociedade saudável e que a maioria dos males vivenciados pela nossa sociedade vem da ação da esquerda que vem destruindo esses valores. Vi que o Capitalismo tirou mais gente da pobreza que o Socialismo, portanto, ele não é perfeito, mas é o melhor sistema que já tivemos até hoje. Hoje assumo feliz: sou um conservador e acredito que precisamos libertar o Brasil do mal que a ideologia da esquerda está fazendo a nossa população.
O governo corrupto, que endividou e empobreceu nosso país, além de causar profunda divisão e inversão de valores, protagonizado por Lula e Dilma, PT e seus aliados de esquerda, acabou de fechar o ciclo. Não sou de esquerda e não posso ser conivente com todo o mal que ela faz ao Brasil e ao mundo.
Nas escolas onde já lecionou e onde leciona como você percebe a influência do Movimento Revolucionário sendo aplicado infiltrado nos conteúdos ministrados aos alunos?
Há décadas essa influência existe. Na primeira metade do século passado o Movimento Revolucionário começou a ver na cultura uma forma de fazer a doutrinação ideológica, e dentro da cultura a Educação. Como o Movimento Revolucionário é mundial isso se alastrou pelo mundo. Segundo Olavo de Carvalho isso tem mais força nos Estados Unidos e Europa e mais tarde chega ao Brasil.
A presença da luta de classes dentro da Educação ganha muita força com a pedagogia de Paulo Freire. Ele é um comunista assumido, inclusive assume abertamente sua opção revolucionária no livro "Pedagogia do Oprimido". A Pedagogia freiriana e sua opção pela luta de classes ganha mais força a partir da década de 1980 e se torna referência na Educação brasileira. Hoje Paulo Freire é a referência da Educação da rede pública de Uberaba e o Patrono da Educação brasileira.
Considerando que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) abraçou muitas pautas da Nova Esquerda (sobretudo identitárias), que as matrizes curriculares estaduais e municipais são produzidas a partir da BNCC é quase impossível não ter infiltração do movimento revolucionário dentro da sala de aula, já que a BNCC e as matrizes curriculares determinam o que os professores devem trabalhar com os alunos.
Os livros didáticos também refletem os conteúdos propostos pela BNCC, ou seja, inevitavelmente abarcaram essas pautas esquerdistas, e muitas vezes em uma visão de esquerda. Soma-se a isso que os cursos de licenciatura têm muitos professores que são de esquerda e que formam os futuros professores dentro de uma visão esquerdista é quase impossível não ter a influência da esquerda dentro da sala de aula. Fico muito chocado quando recebo estagiários em minha escola, o quanto estão muito influenciados pela Nova Esquerda.
Uma outra armadilha para levar as pautas de esquerda para dentro da sala de aula são os chamados temas transversais. São temas como Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde que podem ser inseridos no contexto dos conteúdos ensinados na escola. Isso abre brechas para temas identitários e outras pautas esquerdistas dentro da escola e com uma visão que não é neutra, ou seja, que reflete as opções ideológicas e partidárias dos professores responsáveis.
Segundo publicação do próprio MEC “A abordagem transdisciplinar contribui para que o conhecimento construído extrapole o conteúdo escolar, uma vez que favorece a flexibilização das barreiras que possam existir entre as diversas áreas do conhecimento, possibilitando a abertura para a articulação entre elas. Essa abordagem contribui para reduzir a fragmentação do conhecimento ao mesmo tempo em que busca compreender os múltiplos e complexos elementos da realidade que afetam a vida em sociedade.” (Fonte: Temas Contemporâneos Transversais na BNCC - páginas 18 e 19)
Você já foi alvo de perseguição por parte de militantes travestidos de professores?
Essa é uma situação bem complexa, mas sim, eu já passei por grandes dificuldades por causa de pessoas realmente militantes. Meu primeiro choque com a esquerda foi na faculdade. Membros do movimento estudantil, ligados ao PCdoB, que inclusive muitos deles não estudavam lá, queriam se infiltrar dentro da faculdade e sobretudo na organização do nosso Diretório Acadêmico, que estava em processo de construção.
Na época eu ainda estava sob forte influência da doutrinação esquerdista que havia sido submetido durante a Educação Básica. Eu ainda acreditava no Marxismo Revolucionário, ou seja, na luta armada para construir o Socialismo. Na época eu era muito inexperiente e tinha pouco subsídio teórico para entender no que eu estava realmente me envolvendo. Eu era um idealista cheio de boas intenções, mas totalmente equivocado. Então resolvi me envolver na formação do Diretório Acadêmico, na verdade Centro Acadêmico, da faculdade. Era época de eleição e um dos membros do PCdoB que fazia parte do movimento estudantil queria se candidatar a vereador. Acredito que eles intensificaram a estratégia de construir a candidatura buscando apoio nas faculdades da cidade.
Foi a primeira vez que constatei o autoritarismo da esquerda e a discrepância entre o discurso de democracia que fazem com a prática que exercem. O PCdoB, mesmo tendo apenas dois membros lá dentro queria dominar o nosso Centro Acadêmico. Quando eu fui contra foi como abrir a caixa de Pandora. Me massacraram. Todas as técnicas possíveis de desconstrução de imagem foram usadas para me destruir e desacreditar e realmente funcionaram, pois eu não tinha muita estrutura teórica e experiência prática para lidar com aquilo naquele momento.
Foi minha primeira grande decepção com a esquerda e um momento que me incentivou a buscar mais estudo e compreensão do tema com o objetivo de saber se aquilo que fui levado a acreditar na Educação Básica realmente era coerente com a realidade ou se era só um discurso de poder.
Essa faculdade que cursei era específica para cursos de Licenciatura. A LDB estabelecia que até o ano de 2007 todos os professores tinham que ter curso superior. Então o governo municipal criou essa faculdade para que os professores que tinham só magistério pudessem cursar o Ensino Superior e, como havia falta de professores, também para formar novos professores. Na época a faculdade era nova e a esquerda se mobilizava para ocupar espaços. Gente ligada ao PT e PCdoB agia para conquistar espaços entre os estudantes e eu me aproximei por um breve período do PSTU, que também tinha interesse. Acabou que virou uma grande disputa e como eu não aceitava as imposições externas acabei sendo isolado e afastado do Diretório Acadêmico. Na época tínhamos alguns poucos professores também ligados a esquerda que se mobilizavam para ocupar espaços entre os alunos. Nessa época eu me impressionei com o quanto a esquerda estava realmente interessada em ocupar espaços dentro da faculdade. Só mais tarde, compreendendo a Guerra Cultural, consegui entender o porquê se interessavam tanto em ocupar espaço em uma faculdade na qual se formariam futuros professores.
A desconstrução de imagem que fizeram de mim nessa época me prejudicou muito depois de formado. Não me impediu de arrumar trabalho, passei em três concursos públicos e trabalhei em escola particular, mas sempre senti que ficava aquela impressão ruim de mim quando pessoas da época da faculdade trabalhavam comigo ou corriam essas notícias de minhas opções políticas através da "rádio peão".
Um ano após a formatura fui chamado para trabalhar em uma escola grande da rede particular de Uberaba. Eu nunca havia deixado currículo, mas algumas pessoas que eu conhecia e lá trabalhavam me indicaram. Um dia chego em casa e minha mãe me disse que eu tinha sido convidado para uma entrevista de emprego nessa escola. Foi eu mais uns quatro e acabei sendo aprovado. Lá dentro veio minha segunda grande decepção com a esquerda.
Comecei a trabalhar nessa escola particular no ano de 2003. Nessa época o "progressismo de esquerda", muito influenciado pela New Left dos Estados Unidos começava a ganhar força e a dominar a esquerda brasileira, sobretudo depois da vitória presidencial do ex-presidiário Lula. Eu comecei então a perceber que a esquerda estava cada vez mais diferente das teorias de Marx. Não se preocupava tanto com o proletariado e com a ditadura do proletariado. A preocupação agora era com as causas identitárias em um grau de radicalização irracional, pois adotava uma visão unilateral, ou se aceitava aquilo ou a pessoa era demonizada. Vivi isso tudo dentro de um ambiente de escola particular. Não era a postura da escola, mas sim da influência ideológica de grande parte dos professores.
Como essas ideologias começaram a ganhar espaço na mídia e no mundo cultural os alunos também passaram a adotá-las. Em um ambiente tão "progressista" eu era visto como um radical de esquerda porque sabiam que na faculdade eu era marxista clássico, e, ao mesmo tempo, me viam como um conservador reacionário porque eu não aceitava os novos valores do "progressismo".
Passei a ser mal visto e mal falado. A pressão emocional foi grande e eu fiquei por um bom período me sentido deprimido e em pânico. São dificuldades e situações tão extremas que me fortaleceram muito e me incentivaram a querer estudar mais e buscar respostas para esse mundo tão louco.
O terceiro grande choque que tive com a esquerda veio quando fui trabalhar na escola em que estudei na Educação Básica e onde sofri grande influência da ideologia esquerdista inicialmente. A influência esquerdista era muito forte e visões antagônicas eram mal vistas. Novamente foi um período de desgaste emocional muito grande e minha decepção com a esquerda aumentou.
Quando fui trabalhar na rede municipal ocorreram novos conflitos com o autoritarismo de pessoas com visão esquerdista. Nessa época eu comecei a conhecer as obras de Olavo de Carvalho e da Ana Campagnolo. Foi uma libertação tanto do ponto de vista de conseguir compreender melhor a Guerra Cultural da esquerda e suas consequências como do ponto de vista de ter certeza que eu não tenho nada haver com a esquerda, inclusive compreendi que ela é responsável por grande parte dos males que vivenciamos hoje.
Quando Jair Bolsonaro surge como grande liderança conservadora no país eu me identifiquei com os valores por ele defendidos: Deus, Família, Pátria e Liberdade. Tive certeza que o conservadorismo, a moral tradicional são os valores com os quais me identifico.
Desde então meus embates com a esquerda continuam.
Como você faz para conviver em paz no seu modo de viver e com os valores que você defende, em harmonia com a esquerda que geralmente é agressiva?
Esse para mim é o ponto mais importante da nossa conversa porque me permite desfazer um equívoco. Muitas pessoas têm partido da ideia que os professores são todos esquerdistas, militantes e doutrinadores. É um senso comum que ao mesmo tempo que nos afasta da verdade dos fatos também nos afasta de um julgamento justo da situação.
A maioria dos professores não são nem de esquerda e nem de direita. São pessoas que precisam trabalhar e querem fazer um bom trabalho apesar das muitas dificuldades que envolvem nossa profissão. O pior de tudo é que devido ao forte domínio que a minoria esquerdista dos professores apoiada pelos Sindicatos, partidos e políticos em exercício de mandato tem sobre o ambiente da Educação a maioria dos professores sofrem vários tipos de opressão no seu trabalho e ainda ficam estigmatizados como se fossem doutrinadores esquerdistas.
Isso acontece em primeiro lugar porque quem elabora as políticas de Educação normalmente são pessoas ligadas ou fortemente influenciadas pela esquerda. Dentro dessas políticas vêm todas as principais orientações do que a escola deve ensinar, de como ela deve se organizar, de como ela deve gerir os problemas e as principais referências que ela deve seguir. Vou te dar alguns exemplos: A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) na parte de Geografia tem uma forte referência das pautas de esquerda (sobretudo identitárias) na definição dos assuntos que devem ser tratados em sala de aula. Sendo assim, mesmo que o professor não seja de esquerda ele é forçado a trabalhar esses conteúdos subjetivos e ideológicos.
Outro ponto que merece destaque é que antes do presidente Bolsonaro o Enem vinha sendo recheado de pautas ideológicas de esquerda para forçar os professores da Educação Básica a trabalharem dentro dessa linha nas escolas.
E, por fim, como tanto as aulas em sala quanto os livros didáticos produzidos para serem usados nas escolas tem que usar como referência a BNCC esses livros didáticos vêm cheios das pautas ideológicas e doutrinadoras. Nesse contexto a militância de esquerda se sente à vontade para perseguir, criticar e atacar os professores que não seguem essa linha doutrinária. Usam como legitimação de sua ação o fato de que os professores não estão seguindo o que está no livro didático e não estão trabalhando de acordo com o Enem. O governo Bolsonaro começou a colocar isso em discussão ao expor a doutrinação que estava ocorrendo via Enem. Eu já sofri perseguição por isso, inclusive com professores falando mal de mim para os alunos. Minhas aulas abordam os temas acadêmicos essenciais que servem de ferramentas para entender a realidade e não aceito fazer essa doutrinação de ficar tratando os assuntos sob um único ponto de vista, o da esquerda, como se fosse a verdade absoluta.
Gosto de trabalhar a teoria básica do assunto e colocar em confronto os diversos pontos de vista sobre eles. Isso deixa os professores esquerdistas incomodados porque expõe que o ponto de vista que eles abordam não é o único e pode estar cheio de falhas.
Essa desconstrução de imagem já me incomodou muito. Hoje estou mais maduro e fortalecido, tanto como pessoa como em conhecimento teórico, para poder me sentir seguro e confrontar esses desafios.
Portanto, a harmonia nunca será possível. Estou consciente que a cada dia, dentro e fora da escola, terei que argumentar e defender o espaço que ocupo porque tenho a coragem de pensar diferente e me expor. Nem todos professores tem coragem de pagar esse elevado preço. Muitos preferem se calar e se fazerem de desentendidos para serem deixados em paz.
Infelizmente a direita brasileira se omitiu e permitiu que a militância esquerdista dominasse de forma quase completa a Educação. É essa militância de esquerda que levou a luta de classes para dentro da escola através de Paulo Freire (que Dilma transformou em nosso patrono da Educação). Foi ela quem aproveitou essa infiltração para levar as pautas da Nova Esquerda, identitárias sobretudo, para dentro das escolas e para os materiais didáticos. Foi essa esquerda que dominou o corpo docente das universidades para influenciar a formação, o pensamento e a prática pedagógica dos futuros professores. O senhor Paulo Freire por exemplo trata seu livro "Pedagogia da Autonomia”, uma das principais referências pedagógicas no nosso país, como "as práticas e saberes necessários aos professores" em sala de aula. Ali estão muitas ferramentas para uma Educação que forma o pensamento "crítico" (que só sabe criticar sem entender o que realmente ocorre).
Essa mesma esquerda ocupou espaço na representação política dos professores seja a nível sindical seja a nível parlamentar. Infelizmente só os parlamentares de esquerda tem vestido a camisa de defender os interesses do professores. Os de direita além de se omitirem muitas vezes apenas apontam o dedo para acusar os professores de doutrinadores e não merecedores de qualquer reconhecimento e valorização. Nesse cenário fica difícil os professores e a Educação sair das mãos da esquerda.
Somos oprimidos por uma minoria politicamente organizada que tem o apoio dos sindicatos, partidos e políticos de esquerda enquanto nós, que não somos desse grupo e queremos fazer nosso trabalho em paz não temos nenhum apoio diante as perseguições e pressões que sofremos seja dos colegas que tem essa organização político partidária seja do patronal.
A maioria dos professores que não são nem de direita e nem de esquerda estão oprimidos na escola pelas políticas educacionais equivocadas realizadas por especialistas de esquerda que assessoram não só governos esquerdistas, mas também de centro e de direita.
Mesmo não sendo coniventes com isso a maioria dos professores são colocados no mesmo balaio como se fossem militantes de esquerda enquanto na verdade estão sendo oprimidos e tendo sua imagem degradada pela influência esquerdista na Educação. A direita conservadora precisa parar de se omitir e ocupar espaços na Educação.
Como você percebe o movimento sindical atuando para cada vez mais corromper a classe dos professores para essa ideologia esquerdista que em tudo vê divisão do “nós contra eles”?
Na atual Guerra Cultural o domínio sobre a Educação é um dos principais pilares de poder que a esquerda tem. Dominam a formação das referências de pensamento das pessoas desde a Educação Básica e avançam mais na Educação Superior. O objetivo desse domínio é desconstruir nossas referências morais, religiosas e familiares que moldam nosso pensamento e comportamento conservadores e substituí-las por novas referências que se adequam ao projeto de poder que a esquerda quer implantar.
As bases disso tudo não foram formatadas no Brasil. Seus fundamentos vêm de Gramsci, da Escola de Frankfurt e da New Left. Gramsci, um filósofo e político comunista italiano, se decepcionou com o modelo do Socialismo Real adotado na União Soviética. Quando encarcerado pela ditadura fascista de Benito Mussolini ele desenvolveu todo um revisionismo para a luta de classes e para a Revolução Socialista. Segundo Gramsci a Revolução deveria ser primeiro na mudança cultural e no senso comum das pessoas. As pessoas precisam primeiro aceitar o Socialismo e os socialistas devem ocupar espaços na sociedade para só quando a hegemonia for atingida ocorrer a Revolução, segundo Gramsci sem grandes resistências.
A Escola de Frankfurt, originada na Alemanha, mas fortalecida em seu exílio nos Estados Unidos durante o domínio nazista em seu país de origem, era constituída principalmente por intelectuais alemães comunistas de origem judaica. Assim como Gramsci esses intelectuais haviam se decepcionado com o Socialismo Real da URSS e queriam um novo modelo para a luta de classes. Começaram a desenvolver essas teorias de minorias e das pautas identitárias em suas obras que serviram de referências para a organização política da New Left, a Nova Esquerda dos Estados Unidos, que abandona o marxismo clássico pela luta das minorias (negros, gays e mulheres) contra o sistema.
Essas pautas têm um potencial de elevada destruição para a harmonia social e os valores morais, religiosos e familiares tradicionais.
O feminismo, por exemplo, através da Segunda Onda (a Revolução Sexual) colocou pautas antifamília no centro da discussão política e social. Vem daí a defesa do aborto como um direito reprodutivo, o casamento e o divórcio banalizados, e a adoção pela mulher de comportamento promíscuos antes associados aos homens. O potencial de destruição da família foi drástico, assim como foi o de enfraquecimento da família nuclear e o aumento de mães e pais solteiros. O enfraquecimento dos valores da família e da religião também levaram a perda dos valores de respeito pelo próximo, pela moderação e respeito a vida em sociedade como também alavancaram o uso de drogas e o aumento da criminalidade.
A Terceira Onda do Feminismo agora vem com a Ideologia de Gênero com a clara intenção de perverter e subverter a identidade de "gênero", segundo Judith Butler, uma das lideranças principais dessa ideologia.
Todas essas pautas visam claramente destruir a família tradicional baseada na responsabilidade e respeito mútuo de seus membros e constituída por um homem, uma mulher e seus filhos. Como alerta Ana Caroline Campagnolo: se qualquer arranjo familiar é família então família não é nada porque não tem uma definição e uma constituição objetiva e clara.
Todas as consequências dessas mudanças estão hoje gerando conflitos e dificuldades dentro de nossas escolas que estão mais preocupadas em defender essas pautas do que em oferecer uma Educação culta, acadêmica e sem ideologias.
Os Sindicatos que abraçaram essas pautas e as querem dentro das escolas são na verdade uma extensão da ação política dos partidos de esquerda. Apesar de não assumirem publicamente são tutelados por partidos como o PT e PCdoB dentro da Educação. Nesse contexto vejo os Sindicatos mais como representantes do projeto de poder político da esquerda do que como representantes dos interesses dos professores e da qualidade da Educação.
Por exemplo, numa manifestação contra a PEC 32, reforma administrativa, ocorrida em 2020 em Uberaba e apoiada pelos Sindicatos, o foco ficou claramente no Fora Bolsonaro e na campanha antecipada de eleição do ex-presidiário Lula. Os Sindicatos usam a representação dos professores para inserir esses "cavalos de Tróia" ideológicos partidários desmoralizando-se e desacreditando a legítima luta por melhores condições de salário, trabalho e valorização dos trabalhadores. Eu sempre me posiciono de forma crítica a essas posturas e acabo confrontando os Sindicatos. Nesse caso específico questionei os dois sindicatos de professores via pessoas que conheço e a ele são ligadas.
Ambos não concordaram com minhas críticas e acham o que se passa nesse evento algo normal, mesmo que o tema do protesto seja a PEC 32, mas tem mais faixas de fora Bolsonaro e Lula livre, afora o teatro bufão protagonizado pelo grupo militante LGBT Beth Pantera, do que contra a PEC 32. Agem como se essa postura política, ideológica e partidária representasse todos os trabalhadores da Educação, não representa.
Recentemente tive um novo embate com o sindicalismo da Educação. Estão em ação conjunta com outros movimentos de esquerda para boicotar as escolas cívico-militares. Grupos liderados por simpatizantes das pautas de esquerda, como o Coletivo de Educadores, “políticos progressistas”, professores universitários e da Educação Básica e os Sindicatos tem agido no sentido de criar uma opinião contra as escolas cívico-militares. As ações envolvem desde lives para apontar alegados prejuízos aos professores e a qualidade da Educação até mobilização de políticos que podem agir contra a implantação dessas escolas. As alegações que fazem precisam ser muito discutidas porque para mim não são nem um pouco convincentes. Mas como essa turma não gosta do debate já me excluíram de grupos de professores, se apressam em terminar reuniões e tentam me ignorar para tentar deixar tudo como querem, ou seja, sem nenhum confronto com outros pontos de vista baseados em argumentos sólidos.
Outro choque vem com o fato de sindicatos estarem induzindo os professores a votarem no ex-presidiário Lula e no máximo de parlamentares de esquerda. Parece que querem uma base de oposição forte após a provável vitória do presidente Bolsonaro na eleição desse ano. Como me contraponho, não fico bem visto.
Como vê, não há harmonia. Assumir uma postura diante esse ambiente ideologizado que é a Educação é ter que sempre estar se posicionando para não ser engolido e pisoteado.
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