Novas nomeações moldam o futuro político de Araxá
- Gi Palermi
- 17 de abr.
- 5 min de leitura
Peças em movimento: cerimônia de posse dos secretários revela alianças e antecipa o jogo para 2026 e 2029.
A política de Araxá está longe de ser um campo parado. Se alguém ainda tinha dúvidas de que as movimentações de bastidores estavam acontecendo, a cerimônia de posse dos novos secretários municipais, realizada na última terça-feira (15.abr.2025), veio para deixar tudo às claras. Mais do que uma simples formalidade administrativa, o evento revelou a arquitetura de um novo momento político, marcado por articulações que vão muito além das cadeiras ocupadas agora — elas já apontam para os projetos eleitorais de 2026 e 2029.
Com a reforma administrativa recém-aprovada pela Câmara Municipal, quatro novas secretarias foram criadas. A justificativa oficial é tornar a gestão pública mais moderna, eficiente e focada, dividindo as tarefas por áreas específicas. Mas, nos bastidores, o que se percebe é que cada nome escolhido carrega uma história, uma aliança, um sinal — e até promessas para o futuro.
Do ambiental ao estratégico: a escolha de nomes técnicos e políticos
Começando pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, temos a nomeação de Vinícius Santos Martins, um nome técnico, com formação sólida e uma longa trajetória na área ambiental. Ele assume interinamente, mas não por acaso. Vinícius já está à frente do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável de Araxá (IPDSA), e a permanência dele nesse novo posto reforça a intenção da gestão de manter sob controle uma área estratégica para projetos urbanos e ambientais que podem atrair recursos e consolidar obras importantes. Ele é o tipo de nome discreto que não aparece nas "manchetes" políticas, mas que participa ativamente da engrenagem que faz a cidade girar.
A volta dos que não foram
Outra nomeação que chama atenção é a de Alda Sandra Barbosa Marques para a recém-criada Secretaria de Turismo. Quem acompanha a política local sabe que Alda tem uma trajetória sólida como empresária e como gestora pública, com forte ligação com o ex-prefeito Jeová Moreira da Costa. Jeová, por sua vez, foi um dos apoiadores da reeleição de Robson Magela em 2024. Ou seja, essa nomeação é um gesto claro de gratidão política — e também uma sinalização de que o grupo de Magela continua valorizando antigos aliados que ainda têm influência e prestígio. Alda volta à cena com a missão de transformar Araxá em um destino turístico de peso nacional, o que, convenhamos, também ajuda na popularidade de qualquer governo.
Adversários que viraram aliados — e agora são governo
Mas talvez as duas nomeações mais emblemáticas dessa nova fase sejam as de Fabiano Santos Cunha e Chico Leitão. Ambos, em momentos diferentes, já foram nomes fortes da oposição. Fabiano, por exemplo, foi candidato a vice-prefeito em uma chapa contra Robson Magela na eleição de 2020. Já Chico Leitão é ligado ao Serginho do grupo empresarial Polo, que chegou a ser pré-candidato à Prefeitura naquela mesma corrida e, segundo dizem, tinha chances reais de vencer — mas recuou e, desde então, vem se aproximando de Magela.
Agora, ambos ganham espaço na estrutura do governo. Fabiano assume a Secretaria de Inovação e Tecnologia, o que mostra que a gestão está investindo em áreas modernas, mas também que sabe recompensar apoios importantes — inclusive de antigos adversários. Já Chico assume a Secretaria de Gestão, área estratégica para o funcionamento interno da administração. Um nome de peso, com histórico em governos anteriores e trânsito livre tanto no setor público quanto no meio empresarial. A mensagem que fica é: o grupo de Robson e Bosco está cada vez mais plural e ampliando sua base de sustentação.
Saúde nas mãos de Heringer
Outro movimento que não passou despercebido foi o da nomeação de Rubens Herbert para a Secretaria de Saúde. Isso aconteceu ainda em março, antes mesmo da posse coletiva. Rubens tem experiência em gestão pública e vinha atuando como braço direito do deputado federal Mário Heringer na Câmara dos Deputados. A entrada dele no governo local reforça a aliança entre Magela e Heringer — aliança essa que deve se fortalecer ainda mais nas eleições de 2026, quando Heringer deve buscar a reeleição para a Câmara Federal pelo sétimo mandato consecutivo.
Não por acaso, a Saúde — uma das áreas com maior visibilidade e cobrança popular — ficou justamente sob a responsabilidade de alguém ligado ao deputado. Heringer, que já vinha apoiando Magela, agora tem espaço dentro do governo e condições de mostrar resultado. Ou seja: ganha o governo, que se fortalece tecnicamente, e ganha o deputado, que amplia sua base de apoio na cidade.
Cenário futuro: os nomes que já se desenham no horizonte
Com todas essas peças colocadas, o que se vê é um desenho claro do que pode vir pela frente:
Bosco, atual deputado estadual e principal articulador político da cidade, deve buscar a reeleição em 2026. Mantendo o cargo na Assembleia Legislativa, onde já está há quatro mandatos consecutivos, ele continua sendo o elo entre Araxá e o Palácio Tiradentes, além de permanecer com um pé na administração municipal por meio do filho, Bosco Júnior.
Heringer deve repetir a dose e disputar mais um mandato para deputado federal, agora com o apoio mais explícito da estrutura municipal.
E Bosco Júnior, vice-prefeito e nome em ascensão, vai sendo preparado com calma para disputar a Prefeitura de Araxá em 2029. A estrutura está sendo montada em torno dele, e o tempo está a seu favor.
E Raphael Rios, onde entra nessa história?
É aqui que o jogo fica interessante. Raphael Rios é um nome que não pode ser ignorado. Com histórico de boa votação, atualmente primeiro suplente de deputado federal de sua federação, Raphael é um nome com capital político, mas pode estar sendo encurralado pelas novas alianças. Seu sonho de ser prefeito pode esbarrar no favoritismo de Bosco Júnior. E sua pretensão de disputar uma vaga na Câmara Federal em 2026 pode virar campo minado se Mário Heringer seguir forte na região.
Com essas alianças firmadas e esse “supergrupo” se formando em torno de Robson, Bosco, Heringer e seus aliados, a margem de manobra para Raphael vai ficando mais estreita. A pergunta que fica é: qual será o lugar de Raphael Rios nesse tabuleiro?
Raphael vai precisar escolher: ou tenta costurar novos apoios fora desse grupo dominante, ou entra no jogo de vez e negocia espaço. De qualquer forma, o tempo está correndo, e o tabuleiro já começou a se mexer.
No fim das contas, o que se desenha é um novo momento da política local. As peças estão se mexendo com mais velocidade do que parece. E como em qualquer jogo de xadrez, o movimento de um peão pode, lá na frente, decidir o xeque-mate.




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