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Quando o picolé derrete no tribunal da injustiça

  • Foto do escritor: Gi Palermi
    Gi Palermi
  • 6 de abr.
  • 2 min de leitura

No país onde a balança da Justiça deveria usar o mesmo e mesma medida para qualquer pessoa, independente de fé, cor da pele ou corrente política, um picolezeiro, um pipoqueiro e uma dona de casa se tornaram vilões dignos de sentença. Não é romance, é realidade. O plenário virtual do Supremo Tribunal Federal — a mesma corte que solta narcotraficantes e assassinos com pareceres aveludados — decidiu, nesta sexta-feira (04.abr.2025), condenar seis brasileiros comuns por “crimes” cuja gravidade está mais na cabeça dos ministros do que nas provas dos autos.


Simone Pereira de Oliveira Lopes, 48 anos, acabou de passar por uma cirurgia para retirada do útero. Mesmo assim, teve seu tempo de recuperação reduzido por Alexandre de Moraes, o mesmo relator que já foi apelidado de “xerife da democracia” por seus fãs e de “imperador da toga” por seus críticos. Ela não depredou, não incitou violência. Apenas se manifestou. E por isso, o martelo da injustiça lhe caiu pesado.


Otoniel da Cruz, 45, viajou da Bahia para Brasília com uma caixa de isopor cheia de picolés. Sonhando ver de perto as manifestações e vender seus geladinnhos no acampamento em frente ao Quartel General do Exército. Tinha passagem de volta, planos, e esperança. Mas virou alvo de uma condenação que o pinta como criminoso.


Carlos Eifler, 54, é pipoqueiro gourmet. Pop, doce, salgada, ele só queria vender. Agora, amarga a condenação por associação criminosa e incitação ao crime — segundo o STF, por “estimularem as Forças Armadas a tomarem o poder”. Nenhum dos três empunhou armas. Nenhum depredou patrimônio. Mas todos pagarão caro por terem ousado discordar do regime de pensamento único.


Os demais réus são Washington Souza, Willian Oliveira e Paulo da Silva. Todos rejeitaram o Acordo de Não Persecução Penal da Procuradoria-Geral da República — aquele que exige confissão, humilhação pública e o selo de “culpado” no currículo de quem só queria ser ouvido.


A pena? Um ano de reclusão, convertida em restrições: sem redes sociais, sem passaporte, sem sair da comarca, com 225 horas de trabalho comunitário e participação obrigatória no “curso de democracia” da PGR — uma reeducação ideológica à moda chinesa. Como cereja do bolo, multa de 20 dias, à razão de meio salário mínimo por dia.


Cristiano Zanin, Flávio Dino, Dias Toffoli, Edson Fachin e Cármen Lúcia seguiram fielmente o voto de Moraes. Apenas André Mendonça — o único que ainda parece escutar a voz da razão — votou pela absolvição.


É curioso ver como os mesmos togados que acham que a lei é dura demais com os bandidos armados e defendem que esses tenham seus direitos humanos amplamente respeitados, agem com punho de ferro quando se trata de trabalhadores réus primários que ousaram se manifestar contra o sistema.


O Brasil de 2025 vive a inversão da lógica. Não é mais preciso ter provas para ser condenado. Basta incomodar o poder. A toga virou armadura de guerra, e o tribunal, ringue ideológico.


Enquanto o picolé derrete na mão do povo, a pipoca estoura na panela quente da perseguição. E a Justiça? Essa virou um teatro com roteiro pronto — e o povo, figurante da própria tragédia.

 
 
 

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