Suprema intimidação do Congresso
- Gi Palermi
- 27 de mar.
- 2 min de leitura
A imprensa brasileira, outrora fiscalizadora do poder, tem se tornado cúmplice da crescente instrumentalização política do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte, que deveria se ater ao seu papel de guardião da Constituição, transformou-se em um ator político, chantageando grupos e ameaçando investigações seletivas.
A declaração da jornalista Natuza Nery, da GloboNews, em uma transmissão ao vivo nesta quinta-feira (27.mar.2025), exemplifica essa realidade: segundo ela, caso o Centrão patrocine a anistia para envolvidos nos atos de 8 de janeiro, sofrerá retaliações do STF. A afirmação, feita com naturalidade, escancara a promiscuidade entre o Judiciário e a política, algo que deveria ser motivo de escândalo, mas que foi tratado com total normalidade pela mídia.
A fala de Nery sugere que o Supremo tem na manga processos engavetados contra políticos do Centrão, usados como moeda de troca para garantir que determinadas decisões sejam tomadas conforme sua vontade. Esse modus operandi fere de morte a independência entre os poderes e cria um ambiente de insegurança jurídica.
No mesmo dia, o colunista Igor Gadelha estampou no portal Metrópoles: "A nova arma de Moraes para pressionar Kassab contra a anistia do 8 de janeiro".
O jornalista diz com toda naturalidade que em meio a debate sobre anistia, ministro Alexandre de Moraes mandou investigação contra Gilberto Kassab voltar da 1ª instância para STF.
Segundo a apuração, Moraes teria alertado Kassab para não permitir que o Centrão apoie a anistia, reforçando a tese de que o STF está utilizando seu poder para moldar decisões políticas conforme seus interesses. Essa revelação se soma ao caso citado por Nery e demonstra um padrão claro de interferência indevida do Judiciário no Legislativo.
A grande imprensa, que historicamente denunciava abusos de poder, agora age como porta-voz dessa nova ordem. Ao invés de questionar o ativismo judicial, normaliza a interferência do STF nas decisões políticas. No caso específico da possível anistia, o debate deveria se dar no âmbito do Legislativo, sem que o Judiciário exercesse qualquer tipo de pressão.
A consequência dessa postura é uma erosão das instituições democráticas. Quando a mídia, ao invés de expor a ameaça que o Supremo representa ao equilíbrio entre os poderes, legitima esse comportamento, os limites da legalidade tornam-se cada vez mais tênues. Hoje, é o Centrão que está sob chantagem; amanhã, qualquer outro grupo ou indivíduo poderá ser vítima dessa mesma dinâmica.
A pergunta que fica é: até quando o Brasil aceitará que sua Suprema Corte atue como um comitê político? E até quando a imprensa seguirá sendo cúmplice dessa anomalia institucional?
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