A caçada a Bolsonaro entre sondas e exames
- Gi Palermi
- 23 de abr.
- 2 min de leitura
No país da inversão de valores, a toga virou capa de super-herói vingador. E o herói da história? Bem, esse está deitado, com sonda e dor, cercado por paredes frias, bip de máquinas e olhares aflitos. Internado há quase duas semanas, Jair Bolsonaro virou alvo de um espetáculo jurídico que envergonha até quem não gosta dele.
A cena que a Revista Veja estampou em sua manchete nesta quarta-feira (23.abr.2025) mais parece roteiro de tragicomédia: “Entre um exame e outro, oficial de justiça caça Bolsonaro no hospital.” Não há sequer um pudor institucional, um freio ético, uma pausa de humanidade. Apenas o tilintar das canetas e o ranger dos sapatos de quem não hesita em transformar a Justiça num circo — e o hospital, numa arena.
Afinal, para quê perseguir traficantes, caçar corruptos ou enfrentar chefes de facção? Melhor mirar num ex-presidente enfermo, que caminha lentamente pelos corredores do Hospital DF Star, em Brasília, tentando se reuperar com fisioterapias entre um exame e outro. Mais fácil. Mais midiático. Mais útil para os “justos” que posam de imparciais.
A impressão é que, no Brasil, a Justiça não se move pelo que é certo, mas pelo que é conveniente. Não age contra quem realmente ameaça a ordem, mas contra quem desafia a narrativa oficial do regime. E se esse alguém está doente, que azar o dele. Justiça não tem coração — e parece que tem orgulho disso.
O Brasil não caça criminosos. Caça ícones que incomodam. Porque enfrentar bandido armado exige coragem. Reformar o sistema penal custa caro. Lutar contra o crime exige estratégia e risco. Mas notificar Bolsonaro num hospital? Ah, isso é fácil. Isso garante manchete. Isso mostra serviço — pelo menos para quem não entende o que é justiça de verdade.
Bolsonaro não é apenas um alvo jurídico. É um ritual. Um totem a ser punido em praça pública, mesmo quando essa praça é um leito hospitalar. E enquanto o ex-presidente sente dores físicas, os arautos da legalidade fazem pose para foto, crentes de que estão escrevendo história. Mal sabem que estão apenas riscando mais uma página de vergonha nacional.
Isso não é sobre política. Nem sobre o processo em si. É sobre dignidade. Sobre humanidade. Sobre saber a hora de parar, de recuar, de respeitar o limite entre o rigor e a crueldade.
Porque no Brasil de hoje, se você ainda acredita que a justiça é cega, é bom torcer para ela também não ser surda nem desumana. Mas parece tarde pra isso. A justiça não dorme, dizem. Mas talvez, só talvez... ela tenha deixado de sonhar. A busca pela verdade, a compaixão, a sensibilidade humana, o senso de proporção e equilíbrio, a esperança de um mundo mais justo... Parecem ter deixado de ser os ideais da justiça.
A justiça está ativa, mas perdeu o coração. Funciona, mas esqueceu para quem e para quê. Deixou de ser instrumento de bem e passou a ser instrumento de poder.




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