Em Araxá, PL está em pré-campanha para o PDT

Garrado, vereador do PL, vira escudeiro da gestão Robson-Bosco e ajuda a pavimentar campanha de Mário Heringer, deputado do PDT, que já colhe frutos da aliança firmada em 2024.

Quem acompanha de perto as sessões da Câmara Municipal de Araxá já percebeu que o vereador Garrado (PL) se comporta como uma espécie de líder informal do governo Robson Magela (Cidadania) e Bosco Júnior (PL). Sempre pronto para defender a atual administração, ele age como se fosse o porta-voz do Executivo: responde críticas, justifica falhas, repreende colegas e tenta neutralizar qualquer desgaste público que atinja o governo municipal.

Durante as sessões, já elevou o tom em confrontos com outros parlamentares, repreendendo-os por usarem a tribuna para fazer cobranças duras ao Executivo. Em uma dessas ocasiões, explicou — em tom quase professoral, e por vezes ameaçador — que requerimentos e indicações não deveriam ser feitos como exigências, mas sim como pedidos “respeitosamente”, sob o risco de não serem atendidos.

Respostas imediatas

Mais do que orientações regimentais, o que se vê é uma atuação política coordenada. Em diversas ocasiões, Garrado assume o papel de defensor do governo Robson-Bosco, oferecendo respostas imediatas a queixas levantadas por outros vereadores. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando Rodrigo do Comercial Aeroporto (Avante) cobrou em tribuna uma definição da administração sobre o fornecimento de fosfogesso para os produtores rurais. Temendo que os agricultores fiquem na mão de última hora, Rodrigo apelou por urgência.

Garrado prontamente interveio, alegando que a administração ainda está em tratativas com a empresa parceira e que tudo será resolvido a tempo.

A cena se repetiu na reunião desta terça-feira (08.jul.2025). A vereadora Fernanda Castelha (PDT) levou à tribuna a insatisfação de pacientes oncológicos que fazem tratamento em Barretos e que, de forma repentina, passaram a ser transportados em vans no lugar do tradicional ônibus. A principal queixa foi o desconforto da viagem, especialmente pela ausência de banheiro a bordo — um detalhe essencial para quem enfrenta sessões de quimioterapia.

Mais uma vez, Garrado entrou em ação. Informou que a prorrogação do contrato com a empresa anterior, a Vera Cruz, não foi possível por problemas na documentação, mas que o prefeito está preocupado com o caso. Disse ainda que a equipe da Secretaria de Saúde, comandada por Rubens Hebert, está empenhada em resolver a situação e que a substituição por um ônibus já estaria em processo, embora ainda dependente de licitação ou pregão.

Articulação com Heringer

O discurso de Garrado não apenas defendeu a administração, como serviu para reforçar a atuação do secretário de Saúde. Rubens, vale lembrar, é homem de confiança do deputado federal Mário Heringer (PDT), nome que tem sido cada vez mais citado nas sessões da Câmara — e não por acaso.

A surpresa do dia, no entanto, veio do próprio Garrado. Apesar de ser do PL, mesmo partido do vice-prefeito Bosco Júnior e principal partido da direita, o vereador fez questão de elogiar publicamente Mário Heringer, ligado ao campo político do comunista Ciro Gomes. Aproveitando o anúncio feito por Fernanda Castelha de que o deputado destinou R$ 2 milhões para a construção de uma nova Unidade Básica de Saúde no bairro Mangabeiras, Garrado exaltou a parceria entre o deputado e a administração Robson-Bosco. Enalteceu o cuidado que a gestão tem tido com a cidade e classificou Heringer como um dos parlamentares que mais têm contribuído com Araxá.

Pré-campanha

A fala, embora não formalizada em moção oficial, soou como um verdadeiro endosso eleitoral. E não passou despercebida. Mesmo sem uma candidatura ainda oficialmente lançada, Heringer já vem colhendo os frutos da aliança firmada com Robson Magela em 2024, quando passou de adversário público a aliado direto da reeleição do prefeito.

Ao que tudo indica, o deputado federal buscará a renovação de sua cadeira na Câmara dos Deputados pelo 7º mandato consecutivo. E, pelo andar das coisas, a máquina pública municipal já começa a ser mobilizada para ajudá-lo a garantir isso.

A presença de seu assessor direto na Secretaria de Saúde, o discurso alinhado dos vereadores da base e a repetida menção ao volume de recursos destinados à cidade compõem um cenário típico de pré-campanha disfarçada de gestão. Em pleno segundo semestre de 2025, parece que em Araxá a eleição de 2026 já começou. Por ora, o acordo tem rendido capital político para quem o costurou e, por enquanto, ao que parece, a população colherá frutos. Resta saber o que vem pela frente — será campanha ou gestão?