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O grito que eles se recusam a ouvir

  • Foto do escritor: Gi Palermi
    Gi Palermi
  • 2 de mar.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de mar.

A vitória de "Eu Ainda Estou Aqui" no Oscar deveria servir como um alerta, um espelho do que acontece no Brasil de hoje. Mas, ironicamente, aqueles que aplaudem o filme são os mesmos que fazem questão de ignorar o sofrimento real dos perseguidos políticos que agonizam nas cadeias do país. São os mesmos que vibram com discursos inflamados contra injustiças do passado, mas se calam – ou pior, celebram – quando essa mesma injustiça se repete diante dos nossos olhos.


Rubens Paiva, o personagem cuja história inspirou o filme, morreu sozinho, sem socorro, atrás das grades. Sua esposa ficou viúva, seus filhos cresceram órfãos. Ele foi arrancado de sua casa sem direito a defesa e submetido a um processo arbitrário, marcado pela parcialidade e pela pressa em condenar. O que há de diferente entre esse destino e o Clezão que morreu no dia 20 de novembro de 2023 enquanto tomava banho de sol na Papuda, onde estava preso, aguardando julgamento, por participação em um suposto golpe de estado em 8 de janeiro de 2023?


Ou qual é a diferença entre o que aconteceu com Rubens Paiva e o que acontece hoje com tantos brasileiros que definham na prisão simplesmente por se oporem ao regime vigente?


Mães choram a ausência dos filhos. Esposas se desesperam ao ver seus maridos definhando sem atendimento médico. Crianças perguntam por que o pai não pode voltar para casa. Mas quem deveria se importar finge que nada disso está acontecendo.


O que torna essa tragédia ainda mais revoltante é a hipocrisia dos que se dizem defensores da liberdade e dos direitos humanos. Celebram um filme sobre perseguição política, mas exigem punição implacável para cidadãos desarmados que fizeram quebra-quebra nos prédios da Praça dos Três Poderes. O grito de “Sem Anistia” ecoa nas ruas, nas tribunas do Congresso, nas redes sociais, como uma sentença de morte para aqueles que ousaram desafiar o sistema.


E, enquanto isso, a esquerda – sempre tão disposta a condenar os poderosos – fecha os olhos para o fato de que um dos idealizadores dessa obra cinematográfica é um bilionário banqueiro que lucra com os juros impagáveis que sufocam o trabalhador brasileiro. Um homem que simboliza exatamente o que eles dizem combater. Onde está a coerência? Onde está a indignação?


Se "Eu Ainda Estou Aqui" realmente tem algo a nos ensinar, que seja isto: a injustiça não escolhe época, nem ideologia. Se Rubens Paiva merecia justiça, então os presos políticos de hoje também merecem. Se a dor de uma família destruída pela perseguição política emociona na tela do cinema, então por que não comove quando acontece na vida real?


Quantos mais precisarão sofrer para que essas pessoas finalmente enxerguem o que está acontecendo?



 
 
 

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