Médicos sem salário denunciam descaso
- Gi Palermi
- 26 de jun.
- 2 min de leitura
Imagine acordar cedo, vestir o uniforme, enfrentar longas jornadas e tomar decisões que podem definir entre a vida e a morte — tudo isso sem saber quando vai receber por esse trabalho. Agora, pense que essa situação não acontece há dias, nem há meses, mas há anos. É isso que está vivendo o corpo clínico do hospital Santa Casa de Misericórdia de Araxá, que mais uma vez vieram a público para denunciar o atraso no pagamento dos seus salários.
Desta vez, a folha de abril ainda não foi quitada, mesmo com o mês de junho já chegando ao fim. Em nota de repúdio divulgada nesta quinta-feira (26.jun.2025), médicos da UTI, enfermaria, maternidade, ginecologia e pediatria relataram angústia, contas vencidas, ausência de previsão e o sentimento de humilhação.
"É desumano e inaceitável", diz o texto assinado por duas equipes médicas que atuam no hospital.
Segundo os profissionais, a Prefeitura de Araxá não repassou à Santa Casa os valores necessários para o pagamento da equipe médica. E sem esse dinheiro, o hospital também não consegue cumprir com suas obrigações trabalhistas. O drama é o mesmo enfrentado por qualquer trabalhador: contas acumulando, boletos vencendo, alimentos encarecendo. Mas com um agravante — esses profissionais ainda precisam ter cabeça fria e coração firme para cuidar da saúde de centenas de pessoas todos os dias.
Problema antigo
Não é a primeira vez que isso acontece. Ainda em março deste ano, este mesmo corpo clínico notificou a Santa Casa, o Ministério Público e a Prefeitura, alertando para a possibilidade de paralisação parcial caso os pagamentos continuassem atrasados. Na época, os médicos já estavam há dois meses sem receber. Ou seja: o problema se repete, sem solução à vista.
Na prática, isso significa que Araxá está perigosamente perto de perder seus médicos.
"Diversos profissionais já deixaram a cidade por causa da falta de compromisso com os pagamentos", alertam os signatários da nota.
A consequência? Menos atendimento, mais filas, maior risco para quem depende da saúde pública.
Convênio existe, mas não é cumprido
Vale lembrar que a Santa Casa é uma instituição privada, mas sem fins lucrativos. Ela presta serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) e mantém um convênio com a Prefeitura de Araxá. Esse convênio deveria assegurar os plantões médicos, mas esses pagamentos estão em atraso, de acordo com os profissionais.
A Prefeitura, por sua vez, costuma alegar que não pode fazer repasse direto por se tratar de uma entidade privada. Mas há um contrato em vigor, e esse contrato precisa ser cumprido.
Com cerca de 120 médicos e uma folha mensal que gira em torno de R$ 920 mil, manter a assistência à população sem receber virou missão quase impossível na Santa Casa de Araxá.
Por fim, os médicos fazem um apelo claro: querem diálogo, respeito e solução para o problema que vem se repetindo há mais de dois anos. A cidade não pode ficar sem atendimento médico por falta de pagamento. A saúde não pode esperar. E quem cuida da vida precisa, no mínimo, ter sua dignidade garantida.




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