Médicos sem salário, saúde em risco
- Gi Palermi
- há 2 dias
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Atualizado: há 18 horas
Num plantão de madrugada, enquanto a cidade dorme, há médicos salvando vidas. No silêncio das emergências, enfrentam sufocos, gritos e choros. Lidam com fraturas, infartos, acidentes, crises respiratórias, convulsões. São esses profissionais que correm contra o tempo quando cada segundo conta. Em Araxá, são 28 médicos da rede de urgência e emergência que enfrentam uma rotina pesada, muitas vezes exaustiva. Mas agora, quem precisa de socorro são eles.
Esses profissionais estão há meses convivendo com atrasos nos pagamentos por parte da administração Robson Magela e Bosco Júnior. Mesmo cumprindo os contratos, mesmo prestando todos os atendimentos com responsabilidade, mesmo entregando a documentação exigida, os salários não caem em dia. Em alguns casos, o pagamento chega dois meses depois. E em outros, nem chega.
Isso não é apenas um problema burocrático. É desrespeito. É abandono. É virar as costas para quem passa noites e dias inteiros cuidando dos outros, mesmo sem saber se poderá pagar suas próprias contas.
A situação foi tornada pública hoje (10.jun.2025) por meio de uma nota assinada pelo advogado Johnny Theodoro Rodrigues da Silva, procurador dos médicos. O tom é de frustração e exaustão. Eles contam que tentaram resolver tudo pela via administrativa, conversando, esperando, insistindo. Nada adiantou. Por isso, resolveram procurar o Ministério Público, a Câmara Municipal e agora pedem socorro à imprensa e à população.
Eles explicam que há notas fiscais complementares sendo exigidas sem justificativa. Isso gera mais atraso, mais confusão. O edital que rege o contrato é claro: os pagamentos devem ser feitos até 20 dias após a entrega das notas. Mas a prática está longe disso. O pagamento do mês de abril, por exemplo, só começou a sair em junho – e ainda assim, de forma parcial.
A indignação cresce quando se descobre que os médicos que fazem tudo certo e entregam seus documentos no prazo acabam sendo prejudicados porque o pagamento só é feito depois que todos os outros também entregam. Isso é justo? É coerente? É aceitável?
Esses médicos não estão pedindo favor. Estão exigindo um direito. São trabalhadores que têm famílias, contas, boletos, aluguel, mercado, escola dos filhos. E mais: são trabalhadores que, mesmo sem receber, continuam cuidando da população.
É revoltante pensar que em plena epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave, enquanto esses profissionais enfrentam sobrecarga e riscos, o mínimo – o salário – não lhes é garantido.
Médicos não são números em planilhas. São seres humanos. Estão dentro do Pronto Atendimento, nas unidades de saúde, de madrugada, em feriados, em dias santos, sempre prontos a salvar alguém. E o que recebem em troca? Promessas quebradas, pagamentos atrasados e silêncio do outro lado.
O Município tem o dever de garantir o funcionamento da saúde. E isso começa respeitando quem carrega esse sistema nas costas. Não há saúde pública sem médico. Não há urgência sem gente preparada. Não há emergência sem profissionais firmes.
A população de Araxá já sabe reconhecer a importância desses médicos. Agora, é hora de cobrar das autoridades o mesmo reconhecimento: com dignidade. Com o pagamento em dia.
Se a saúde pública é uma prioridade — como tanto se diz — que esse compromisso se traduza em atitude. Porque, no fim, não é só pelos médicos. É por cada um de nós que pode, a qualquer momento, depender deles para continuar vivo.
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