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O machismo permitido de Lula

  • Foto do escritor: Gi Palermi
    Gi Palermi
  • 14 de mar.
  • 5 min de leitura

Desde que reassumiu pela terceira vez a Presidência da República, Lula tem demonstrado, por meio de suas declarações, um padrão de comentários que contradiz a bandeira de “defensor das mulheres” que a esquerda lhe atribui. Suas falas revelam estereótipos, menosprezo e até insensibilidade em relação às mulheres, algo que, caso fosse dito por um político de direita, certamente geraria revolta por parte das feministas, linchamento virtual e processo judicial. Mas, como se sabe, Lula tem um salvo-conduto da militância para dizer o que bem entender.

A Bíblia nos ensina, em Mateus 12:34, que "a boca fala do que o coração está cheio". Sendo assim, vale recapitular o que tem transbordado da alma de Lula.

Comecemos com uma declaração feita durante um evento em março de 2024 em que referindo-se a uma jovem negra sentada entre as autoridades no palco ele disse que não soube se a jovem era "cantora", "namorada de alguém" ou mesmo "percussionista", pois, segundo ele, "afrodescendente assim gosta de um batuque de um tambor". "Então essa menina vai batucar alguma coisa, porque uma afrodescendente assim gosta de um batuque, gosta de um tambor."  Essa fala de Lula não é apenas um estereótipo racial, mas também um exemplo de como ele reduz mulheres negras a um papel cultural específico, como se suas identidades estivessem automaticamente ligadas à música e à dança. Ao dizer que a jovem “gosta de um batuque e de um tambor” simplesmente por ser afrodescendente, Lula demonstra um pensamento ultrapassado que reforça a ideia de que mulheres negras existem para entreter. Além disso, a declaração tem um tom de menosprezo, como se a única contribuição que aquela mulher pudesse oferecer fosse algo festivo e não intelectual ou político. Esse tipo de postura revela um machismo enraizado, onde a mulher não é vista como protagonista, mas sim como um elemento secundário e decorativo dentro dos eventos e espaços públicos.


Em outro momento, Lula expôs seu pensamento sobre maternidade. Em junho de 2024, ao se dirigir a uma mulher que estava acompanhada de três filhos, ele disse: "Minha filha, a primeira coisa que você tem que fazer é parar de ter filho." Ora, Lula tem 17 irmãos, sendo sete do mesmo pai e da mesma mãe. Felizmente, sua própria mãe não seguiu esse tipo de "conselho". Com essa declaração, Lula não apenas desconsidera a realidade da maternidade como também sugere que ter filhos é um problema que precisa ser interrompido. Em vez de demonstrar empatia ou oferecer uma solução concreta para apoiar aquela mãe, ele reduz sua situação a um “erro” a ser evitado. O comentário carrega um tom de menosprezo, como se ter filhos fosse um obstáculo e não uma escolha legítima da mulher. Além disso, vindo de alguém que cresceu em uma família numerosa e cuja história de vida foi moldada pelo esforço de uma mãe que não desistiu de seus filhos, a fala soa ainda mais contraditória. Ao invés de reconhecer a importância da maternidade e a necessidade de políticas que garantam dignidade às mães, Lula opta por um discurso que infantiliza e repreende, como se o problema estivesse na mulher e não nas dificuldades que ela enfrenta para criar seus filhos.

Sobre violência doméstica, o petista fez piada com um problema grave. Em julho de 2024, comentou: "Eu fiquei sabendo que tem pesquisa que mostra que, depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. É inacreditável! Mas, se o cara é corinthiano como eu, tudo bem." Vale lembrar que, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 2 milhões de mulheres foram vítimas de violência doméstica no último ano. Mas, para Lula, parece ser motivo de brincadeira. Essa declaração de Lula demonstra uma completa insensibilidade diante de um problema gravíssimo que afeta milhões de mulheres no Brasil. Ao brincar com um tema tão sério, ele minimiza a dor das vítimas e reforça a cultura de banalização da violência doméstica. Em vez de reconhecer a gravidade dos números e se comprometer com políticas eficazes de proteção às mulheres, Lula transforma o assunto em piada, como se fosse algo trivial ou justificável dependendo do contexto. Além disso, ao associar a violência ao futebol e, de forma jocosa, ao seu próprio time, ele reforça a ideia equivocada de que esse tipo de agressão é apenas um reflexo passageiro de frustrações masculinas, quando, na verdade, é um problema recorrente. Um líder que realmente se preocupa com as mulheres usaria essa informação para condenar a violência e buscar soluções, e não para fazer uma piada de mau gosto.

No que diz respeito ao papel da mulher no casamento, em janeiro de 2025, Lula declarou: "Eu sou um amante da democracia, porque, na maioria das vezes, os amantes são mais apaixonados pela amante do que pela esposa. Eu sou um amante da democracia porque eu conheço o valor dela." O detalhe? Ele disse isso publicamente, na presença da primeira-dama, Janja da Silva. Essa declaração de Lula não apenas relativiza a fidelidade no casamento, como também sugere que a amante, e não a esposa, é quem desperta verdadeira paixão. Ao utilizar essa comparação para falar sobre democracia, ele reforça uma visão distorcida dos relacionamentos, na qual a infidelidade é normalizada e até romantizada. Além disso, ao fazer essa afirmação publicamente e na presença da primeira-dama, ele expõe sua própria esposa a uma situação constrangedora, como se o papel da mulher no casamento fosse algo secundário ou sem grande importância. O comentário revela um pensamento machista no qual a traição masculina é tratada como algo natural e aceitável. Em vez de enaltecer o valor do compromisso e do respeito dentro do matrimônio, Lula transforma a infidelidade em metáfora, demonstrando que, para ele, fidelidade e lealdade são conceitos flexíveis—seja no casamento, seja na política. E, por fim, sua visão sobre a presença feminina no ambiente de trabalho ficou clara ao justificar a escolha de uma ministra com estas palavras: "Eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra das Relações Institucionais." Além de reduzir a competência da profissional à aparência, Lula deu a entender que a beleza seria um fator estratégico para lidar com o Congresso. Essa declaração de Lula expõe um pensamento não só ultrapassado e superado, mas extremamente machista, no qual a presença de uma mulher em um cargo de destaque não é valorizada por sua competência, mas sim por sua aparência física. Ao justificar a nomeação de uma ministra destacando sua beleza, ele reduz a mulher a um enfeite ou, pior, a uma isca para os homens do Congresso. Essa visão implica que, para Lula, a capacidade de uma mulher no ambiente político não é suficiente por si só, sendo necessário que ela também atenda a um padrão estético que possa ser “agradável” aos demais. Além de desrespeitoso com a ministra, esse tipo de comentário reforça a cultura de objetificação feminina, na qual mulheres são vistas como peças decorativas em vez de profissionais qualificadas. Em um contexto onde tantas mulheres lutam por reconhecimento e igualdade no mercado de trabalho, essa fala não só desvaloriza suas conquistas, como também perpetua a ideia de que cargos importantes podem ser ocupados com base na aparência e não na competência.

Julgar alguém apenas pelas críticas de seus opositores pode ser tendencioso, mas analisar suas próprias palavras é a forma mais justa de entender seu verdadeiro caráter. No caso de Lula, suas declarações falam por si e revelam um padrão claro de menosprezo, objetificação e insensibilidade em relação às mulheres. Enquanto a esquerda o exalta como um defensor da igualdade, suas falas demonstram exatamente o contrário: um político que perpetua estereótipos, faz piadas com temas sérios e reduz a mulher a papéis secundários. O mais impressionante não é apenas o conteúdo de suas declarações, mas o silêncio conveniente da militância feminista, que ignora suas falhas em nome da lealdade ideológica. No fim, as palavras de um homem são reflexo de suas convicções, e as de Lula mostram que seu compromisso com a defesa das mulheres é apenas retórica vazia.

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