Tapira acirra guerra pela Mesa Diretora

Mudança às vésperas da eleição isola a oposição e se torna peça-chave em meio à cassação da prefeita e manobras para manter o poder.

Tapira vive dias de turbulência política — e a Câmara Municipal acaba de provar, mais uma vez, que quando o poder está em risco, as regras mudam conforme a conveniência de quem manda. Na última segunda-feira (11.nov.2025), por 6 a 1, os vereadores aprovaram o Projeto de Resolução nº 10 de 2025, que muda completamente a forma de escolha da Mesa Diretora. Sai o modelo tradicional, com eleição por cargos individuais. Entra a eleição por chapa fechada, que obriga presidente, vice e secretários a concorrerem juntos, como um bloco único.

Na prática, isso derruba o sistema que Tapira sempre utilizou. Antes de 2020, a cidade elegia sua Mesa por cargo — presidente, vice e secretário — e cada vereador votava conforme sua própria convicção, abrindo espaço para composições diversas e equilibradas.

Histórico da disputa

A partir de 2021, tudo mudou. A Câmara implantou um rodízio entre os quatro vereadores mais votados, garantindo que eles se revezassem anualmente nos quatro cargos da Mesa Diretora. Essa regra funcionou por toda a legislatura, sem qualquer questionamento. Foi por ess regra que a atual Mesa Diretora se formou. De repente, virou problema.

Alegando inconstitucionalidade, a administração Maura do Barroso e Jamil apresentou, em setembro deste ano, uma proposta de emenda à Lei Orgânica para restabelecer a eleição direta entre os vereadores — tanto do presidente quanto dos demais cargos da Mesa. A proposta foi aprovada em outubro e passou a valer imediatamente para a atual legislatura.

E agora, às vésperas de uma eleição decisiva, a história se repete: troca-se novamente a regra. De novo sob justificativas técnicas. De novo com efeitos políticos evidentes. Agora, o voto é tudo ou nada. Ou aprova a chapa inteira… ou não aprova nada.

Contexto decisivo

E a pergunta que não quer calar é: por que mudar isso justamente agora?

A resposta está na crise que atravessa a cidade. A prefeita Maura do Barroso e o vice Jamil foram cassados em primeira instância. Eles recorrem, mas enfrentam risco real de perder o mandato. E, se isso acontecer, quem assume interinamente a Prefeitura é o presidente da Câmara Municipal — justamente a cadeira que entra em disputa.

De uma hora para outra, a eleição da Mesa deixou de ser mero rito formal e virou o ponto mais sensível da política tapirense.

A manobra

A nova Resolução impede qualquer chance de participação da oposição. Hoje, apenas Ana Paula e Duda do Cairo formam esse bloco minoritário. Pela regra antiga, elas poderiam disputar cargos isolados. Agora, isso se tornou impossível. Uma chapa de oposição é inviável porque nenhum vereador da base aceitaria compor um grupo contrário.

A votação deixou isso escancarado. Votaram a favor da mudança: Doriquinho, Guilherme do Jamil, Índio, Juninho das Palmeiras, Leandra Goulart e Neylson. Contra, apenas Ana Paula. Duda do Cairo estava ausente.

Antes da votação, Ana Paula ainda tentou barrar a manobra apresentando uma emenda que restabelecia a eleição individual dos cargos, com votação nominal, contagem aberta e critérios transparentes de desempate. Era uma tentativa de preservar a pluralidade e impedir o fechamento completo da Mesa. A emenda foi rejeitada por 6 a 1.

O que está em jogo

É impossível ignorar o momento em que tudo isso acontece. A cassação acendeu o alerta. O presidente da Câmara pode assumir a Prefeitura. A base da prefeita tem maioria absoluta, mas precisava garantir controle total da Mesa. E, para isso, bastou redesenhar as regras — mais uma vez.

O resultado é um Legislativo que, no momento mais delicado, escolheu fechar portas, sufocar dissidências e assegurar que nada escape ao grupo que governa Tapira. A disputa pela Mesa Diretora deixou de ser um rito interno. Virou o capítulo mais revelador da crise política que molda o futuro imediato da cidade.