Impasse trava projetos em Araxá

Após cobranças por projetos parados nas comissões, críticas ao engavetamento e ritmo desigual, Raphael Rios suspende votações.

Uma sessão sem votação de projetos. Foi assim a reunião da Câmara Municipal de Araxá nesta terça-feira (09.set.2025). Apesar de o presidente Raphael Rios afirmar que havia projetos prontos na mesa, a decisão foi suspender tudo. Nem propostas do Poder Executivo, nem dos vereadores foram apreciadas.

“Mais uma pauta aqui, com os projetos já devolvidos, houve hoje muita divergência, suspendemos a reunião para conversar, a gente não entende que houve um consenso e hoje, decisão da mesa, nós, não votaremos, nenhum projeto. Espero que os colegas conversem no decorrer da semana. Pra que a gente tenha condição de tranquilidade, apreciar vários projetos que estão aqui na casa. Então nem projetos do Executivo, e nem os projetos de ordem e matérias aqui legislativas aqui nós iremos apreciar na tarde hoje.”

A justificativa, no entanto, não acalmou o clima. Já virou rotina, no Poder Legislativo de Araxá, ouvir reclamações sobre o ritmo desigual do trâmite interno. Vereadores afirmam que suas propostas ficam semanas engavetadas nas comissões, enquanto projetos enviados pela administração Robson Magela e Bosco Júnior chegam e, no mesmo dia, são liberados para votação.

Caso do TFD

O vereador mais incisivo na cobrança tem sido Rodrigo do Comercial Aeroporto. Reiteradamente, ele pede a votação do Projeto de Lei nº 130/2025 — e nesta reunião não foi diferente.

O projeto prevê reajuste nos valores do Tratamento Fora de Domicílio (TFD). O benefício ajuda pacientes que precisam viajar para consultas e tratamentos fora de Araxá, mas os valores pagos estão defasados. O auxílio alimentação, por exemplo, é de apenas R$ 8,40 por dia, quando os gastos reais chegam a pelo menos três vezes mais.

A proposta foi protocolada em 17 de junho, mas segue parada na Comissão de Justiça, Legislação e Redação Final. O presidente da comissão, vereador Garrado, se manifestou contrário à liberação da proposta, alegando “falta de impacto orçamentário” e dizendo não se sentir à vontade para liberá-la à votação.

Rodrigo do Comercial Aeroporto rebateu a fala, lembrando que o impacto orçamentário já havia sido entregue em 11 de julho, com protocolo registrado. O impasse manteve o projeto parado, mesmo com todos os prazos do Regimento Interno já vencidos.

“É inaceitável brincar com a saúde da população. Esse projeto não é luxo, é dignidade. Quem luta contra a doença não pode lutar também contra o abandono do poder público.”

Outros descontentamentos

Rodrigo do Comercial Aeroporto não foi o único a reclamar. O vereador Roberto do Sindicato também criticou a lentidão na análise de seus projetos, que permanecem engavetados nas comissões sem explicação clara. Para ele, essa seletividade mina a confiança da população na Casa.

Tribuna

Sem votações, o palco principal foi a tribuna. Sete vereadores se revezaram em discursos: João Veras falou de saúde e trânsito; Marciony Sucesso defendeu medidas de acessibilidade; João Paulo da Filomena destacou ações ambientais; Maristela Dutra apresentou propostas ligadas à saúde mental materna e ao TEA; Kaká da Mercearia falou em creches e revitalização de praças; Rodrigo do Comercial Aeroporto propôs fundo para desastres ambientais; e Investigador Rodrigo trouxe projeto para coibir violência sexual em hospitais.

Homenagem e despedida

A sessão também prestou homenagem ao Tenente Marcelo Teixeira, comandante do Corpo de Bombeiros em Araxá, falecido no último dia 6. Foi sugerido que a sede do SAMU receba seu nome como reconhecimento à sua dedicação à cidade.

O que fica para o cidadão

O resultado final da reunião é um só: nenhuma decisão prática. Enquanto isso, projetos que mexem diretamente com a vida do cidadão seguem parados. Cabe à população manter os olhos atentos e cobrar que a Câmara cumpra seu papel — afinal, democracia não se faz apenas no discurso da tribuna, mas no voto que decide os rumos da cidade.