Santa Casa divulga repasses do SUS
- Gi Palermi
- há 7 horas
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Documento revela convênios fragmentados, contrato vencido e ajuda a explicar atrasos salariais denunciados por médicos nos últimos anos.
A Santa Casa de Misericórdia de Araxá tornou públicos os valores recebidos do Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2025. O documento, elaborado pelo Conselho Deliberativo do hospital, foi divulgado no perfil da instituição em uma rede social, na sexta-feira (26.dez.2025), como um informativo de transparência.
Segundo o documento, o complexo hospitalar recebeu até este mês, R$ 40,5 milhões em recursos públicos, vindos das três esferas do poder público. Do total recebido, cerca de 44% vieram do Município, 34% da União e 21% do Estado de Minas Gerais.
Os valores divulgados se referem aos repasses feitos de janeiro até o início de dezembro de 2025. O mês de dezembro ainda não teve a contabilidade encerrada, o que só ocorre oficialmente em janeiro do próximo ano.
À primeira vista, os números chamam atenção. E podem levar muita gente a se perguntar: se entrou tanto dinheiro, por que médicos ficaram sem salário? Para entender a resposta, é preciso olhar o contexto.
Denúncias recorrentes
Nos últimos anos, médicos da Santa Casa passaram a tornar pública a situação de atraso nos pagamentos. Em diferentes momentos, profissionais denunciaram que trabalhavam sem receber salários por até três meses.
O problema deixou de ser pontual e passou a ser recorrente. A crise se arrastou. O próprio informativo da Santa Casa ajuda a explicar parte desse cenário.
A instituição informa que a administração municipal utiliza convênios para repassar os recursos. Não contratos. Convênios são fragmentados, têm regras próprias e dependem de liberações específicas, o que dificulta o planejamento financeiro.
O documento reconhece que essa metodologia impacta diretamente o funcionamento do hospital, inclusive quando os recursos são provenientes do Governo de Minas ou do Governo Federal.
Contrato vencido
Outro dado relevante diz respeito à ausência de contrato formal. O último contrato entre a Prefeitura de Araxá e a Santa Casa foi assinado em dezembro de 2020, com validade inicial de seis meses. Desde então, ele foi prorrogado 13 vezes, sem qualquer reajuste.
E aqui é importante contextualizar.
O ano de 2020 marcou o último ano da gestão de Aracely de Paula à frente da Prefeitura de Araxá. Desde então, ao longo dos quatro anos do primeiro mandato de Robson Magela, não houve a celebração de um novo contrato formal com a Santa Casa, apenas sucessivas prorrogações do contrato firmado no fim da gestão anterior.
Voltando ao documento, a Santa Casa informa que o modelo recomendado pelo Ministério da Saúde, conhecido como contratualização, está em negociação há cerca de um ano e meio, sem conclusão. Na prática, o hospital vem funcionando há aproximadamente cinco anos sem um contrato estável.
O informativo também deixa claro que nem todo recurso recebido pode ser utilizado para o pagamento de médicos. Há verbas carimbadas para equipamentos, programas específicos, UTI, enfermagem e produção hospitalar.
Entrada do Ministério Público
Diante da repetição dos problemas e do risco ao atendimento, o Ministério Público de Minas Gerais passou a acompanhar a situação. O MP intermediou acordos para garantir a formalização de contratos, a regularidade dos repasses e a continuidade dos serviços.
Segundo o Ministério Público, esses compromissos não foram cumpridos pela administração Robson Magela e Bosco Júnior. Por isso, o órgão pediu à Justiça que adote medidas mais duras para garantir o funcionamento dos hospitais e proteger o direito à saúde da população.
Problema estrutural
O informativo da Santa Casa não nega a crise. Pelo contrário, ajuda a entender por que ela se tornou crônica. Mostra um sistema sustentado por convênios fragmentados, contratos vencidos, repasses irregulares e falta de previsibilidade.
Os números indicam que o problema não é apenas quanto dinheiro entra, mas como e quando entra. Depois de anos de alertas, denúncias e tentativas de solução, a crise deixou de ser apenas administrativa. Virou um problema estrutural.
E quem paga essa conta, no fim, é a população que depende do SUS.




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