Sigilo da Codemig chega à Câmara de Araxá
- Gi Palermi
- há 4 dias
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Decisão do governo Zema de impor sigilo de 15 anos a documentos da Codemig provoca reação em Araxá e acende debate sobre transparência.
Na última semana, o governo de Romeu Zema impôs sigilo de 15 anos a uma série de documentos da Codemig — empresa estatal que administra parte das riquezas minerais mais valiosas do país, entre elas o nióbio extraído do subsolo de Araxá.
A decisão causou forte repercussão em Belo Horizonte e logo chegou também a Araxá, onde o tema dominou a tribuna da sessão ordinária desta terça-feira (21.out.2025) na Câmara Municipal.
O governo Romeu Zema afirma que o sigilo é “estratégico”. Segundo o Executivo, divulgar agora os relatórios poderia atrapalhar negociações em curso com a União dentro do programa que busca reduzir a dívida de Minas, hoje superior a R$ 170 bilhões.
Mas, para os críticos, o cenário é outro: falta transparência. O receio é que uma decisão dessa importância ocorra longe do olhar público, sem que a população saiba exatamente quanto vale o patrimônio em jogo.
O que está em jogo
A Codemig tem papel central na economia mineira. Ela detém direitos sobre minerais estratégicos — como nióbio e lítio — usados em setores de alta tecnologia, da aviação às baterias elétricas.
Em Araxá está uma das maiores reservas de nióbio do planeta. É daqui que saem bilhões em riquezas, mas o retorno para o município ainda é pequeno diante do potencial da região.
Foi essa disparidade que levou o tema à Câmara. Afinal, como explicar que uma cidade tão rica em recursos naturais ainda enfrente dificuldades básicas, como infraestrutura precária e fila na saúde?
A reação em plenárioni
O primeiro a abordar o assunto foi o vereador João Veras, que criticou duramente a falta de transparência:
“O que o governador quer esconder? O povo de Araxá tem o direito de saber quanto vale a nossa riqueza. É inaceitável entregar a Codemig pelo valor de um barraco enquanto o nióbio de Araxá vale o mundo.”
Ele lembrou que os relatórios sob sigilo, elaborados por grandes consultorias internacionais, servem para definir o valor real da empresa — e, por consequência, o do patrimônio mineiro.
Para o vereador, esconder esses números é “uma afronta à transparência e à justiça”.
Na sequência, Professor Jales também questionou a decisão:
“Por que um sigilo de 15 anos? A Codemig é do povo mineiro e de Araxá. Temos o direito de saber o que está sendo feito com o que é nosso.”
Ele levantou a hipótese de que o governo possa estar tentando evitar o debate público sobre o valor real da empresa para justificar futuras vendas de estatais, como a Copasa.
Raphael Rios fez coro aos colegas, pedindo mais transparência e equilíbrio:
“Araxá poderia estar em outra condição se tivesse o retorno justo do que é tirado daqui. A gente não quer privilégio, só justiça. E justiça começa com transparência.”
A versão do governo
O governo de Minas, por sua vez, diz que o sigilo é temporário. Afirma que a medida visa proteger informações sensíveis durante as negociações com a União e que os órgãos de controle estão acompanhando o processo.
Segundo o Executivo, após a conclusão das tratativas, os documentos poderão ser liberados.
Mesmo assim, o tema segue gerando desconfiança.
Em cidades como Araxá, onde a riqueza mineral é extraída diariamente, muitos veem o sigilo como um obstáculo ao acompanhamento público de algo que tem impacto direto sobre o futuro local.
Por que o assunto importa
O debate sobre a Codemig ultrapassa fronteiras políticas. O destino da empresa pode influenciar não apenas as contas do estado, mas também o desenvolvimento das regiões onde ela atua.
Se o processo ocorrer sem transparência, há risco de que Minas perca recursos importantes — e que cidades produtoras, como Araxá, continuem vendo suas riquezas irem embora sem retorno equivalente em obras, saúde e qualidade de vida.
Por isso, a discussão que tomou conta da Câmara de Araxá é mais que um embate político: é um chamado por clareza e responsabilidade. Afinal, quando se fala de recursos públicos e riquezas naturais, sigilo demais levanta mais perguntas do que respostas.




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